Brasil paralelo: as músicas de hoje são ruins?
- Matheus G.
- Jul 10, 2021
- 14 min read
Updated: Aug 27, 2022

"Na minha época as músicas eram melhores..."," não se faz mais música como antigamente", "hoje em dia só se escuta barulho". Esses são bordões muito comuns vindos, geralmente, da geração mais velha. Ao longo da história, vimos nossos avós falarem aos nossos pais: "na minha época, música era Noel Rosa, Pixinguinha, Francisco Alves... hoje vocês escutam esse negócio de rock". Vimos os pais falarem aos filhos "A gente escutava rock 'n' roll". E agora vemos nós mesmos — a geração cringe (pelo menos tivemos educação presencial... 🤭) — falando aos millennials: "a música não é mais como era..." É do caramba!
Mas será que isso é verdade? Será que as gerações anteriores têm razão ao afirmar que a qualidade musical caiu nos últimos anos? Para o documentário "A primeira Arte" do Brasil Paralelo, essa é sim uma realidade. É a dura crítica que a produção traz consigo. Mas, afinal, a música de hoje está mesmo perdida?
O gosto é subjetivo
Quando entramos neste assunto, o debate é sempre grande. Afinal, o gosto musical não é subjetivo? Não pode existir, portanto, música boa nem ruim... apenas o que agrada o próprio ouvinte.
Mas seguindo esse pensamento... então não existe arte boa nem ruim? Apenas o gosto de quem a aprecia?
Geralmente, quando entramos nesse debate filosófico para definir o que é arte — e o que faz uma obra ser boa ou ruim — tendemos a não chegar a lugar nenhum. É um assunto realmente muito complexo.
Mas existem duas vertentes principais para a definição de arte, que foram explicadas brevemente pelo documentário.
A primeira vertente diz que arte é algo que nós fazemos para nos expressar como seres humanos, dispondo de uma técnica para representar alguma ideia ou sentimento, como beleza, amor, reflexão, fé, etc. Seria um retrato da alma do artista; algo que tem o poder de transcendência.
A segunda diz que arte pode ser qualquer coisa, desde que cause algum impacto em quem a observa. Pode ser, por exemplo, até um mictório que alguém pegou no banheiro masculino e colocou no meio de uma galeria de arte e BAM! Pronto, arte.

Mas, afinal, como sabemos se uma obra de arte é boa ou ruim? E a minha resposta é...
...
Bom, em boa parte das vezes, nós não sabemos. Pelo menos não com total certeza.
Em alguns momentos, fica mais evidente que é boa/ruim. Já outras vezes, podemos apenas dar uns bons palpites.
Mas calma... eu vou chegar lá.
O tempo como medida
Explicar porque, exatamente, uma certa obra é especial não é simples. É uma coisa meio intangível, inalcançável. É somente algo que sentimos; algo que transcende a própria experiência física.
Saber se uma obra é boa (ou não) é algo que apenas o tempo irá dizer.
A verdadeira arte, aquela capaz de nos tocar de forma diferente e de maneira significativa, é aquela que resiste ao tempo.
Não importa qual época, quantos anos se passarem... as pessoas vão se deparar com uma grande obra de arte e continuar se comovendo, chorando, rindo, refletindo... seja o que for que a obra proponha.
A verdadeira arte continua causando impacto na vida das pessoas em qualquer época. Se torna algo significativo para elas, de forma que a obra é passada para os filhos, e destes para os netos. A verdadeira arte é passada de geração em geração, se mantendo na tradição e no patrimônio cultural de seu povo.
Essa é melhor forma de dizer se uma música é ruim ou não. Não depende de estilo, nem gênero; um não é melhor do que o outro. A melhor variável para fazer essa avaliação é o tempo.
Logo, assim como na meteorologia, podemos estudar o cenário atual e tentar fazer algumas previsões.
Como saber se uma música vai resistir ao tempo?
Não é tão simples saber se a música vai ou não resistir ao teste do tempo. Mas uma das melhores maneiras de tentar saber é observando como o público reage à obra com o passar dos anos. Se as pessoas continuam movidas pela música, mesmo depois de muito tempo, é sinal de que a canção tem força.
Mas algumas pessoas tentam adotar parâmetros para falar se a música é boa ou não. Para alguns, se a música tem uma estrutura mais simples, significa que ela é pior.
A ideia de que quanto mais complexa a música, melhor ela é, não passa de uma grande bobagem. Muitos críticos atacam a música atual por ela ser alegadamente mais "simples" e menos "sofisticada" na sua composição — o que é uma mentira.
Diversas vezes, a música pop se mostrou muito mais complexa que as próprias obras clássicas, barrocas e românticas — de Bach e Vivaldi a Liszt. É o que demonstra o músico Rick Beato com o hit pop dos anos 80, "Never Gonna Let You Go", de Sergio Mendes.
Os próprios Beatles — e vou contradizer o senso comum geral de que eles faziam só músicas simples — criavam harmonias de alta complexidade, em músicas como "If I Fell ", "Michelle", "Because" e "Free As a Bird". Mas isso não fazia das músicas deles melhores que as dos outros.
Os principais pontos a se levar em consideração para avaliar a qualidade de uma obra são aqueles que dizem respeito à capacidade da música de nos tocar, nos comover.
As obras que têm mais força costumam ser aquelas que expressam uma visão de mundo única, do ponto de vista de alguém que vê as coisas sob uma perspectiva diferente. Ou seja, obras criativas, originais e com individualidade marcante.

Além disso, músicas que nos encantem, conquistem, seduzam ou envolvam de alguma forma, seja por seu ritmo ou sua beleza — seja na harmonia, melodia ou na poesia, no caso das canções populares.
As músicas de hoje são ruins?
Percebemos que, de um tempo para cá, a quantidade de hits de 15 minutos de fama explodiu em detrimento das músicas com sucesso mais duradouro. São hits repentinos, que 1 ou 2 anos depois já são considerados "das antigas" e são esquecidos.
É claro que isso não acontece com todas as músicas que são lançadas hoje, mas é um fenômeno que se tornou muito mais recorrente. Então o que está errado?
Afinal, as músicas de hoje realmente são ruins? E a resposta é: não necessariamente.
Hoje há tanto músicas que ficarão lembradas quanto músicas que serão esquecidas, como sempre foi ao longo da história.
A música como revolução

Um erro que nós podemos cometer é não abrir a cabeça para as novas tendências, achando que tudo novo é ruim. É uma tendência das gerações mais velhas perder a sensibilidade com o tempo, e não escutar mais coisa nova. Afinal, nós escutamos mais música quando somos mais jovens.
Isso explica um pouco a tendência das gerações mais velhas de não aceitar as novidades que estão surgindo. Mas, além disso, a dificuldade está também em aceitar novas tendências que estão rompendo padrões previamente instituídos.
Vemos o Blues, por exemplo, trazendo ao meio artístico e tornando legítima a expressão da população negra pós escravidão no início do século XX.

No entanto, o documentário da Brasil Paralelo peca ao omitir os movimentos da década de 60, como o feminismo, o ativismo social e a revolução sexual, assim como o papel da música pop nisso tudo.
Nessa época, as pessoas viviam numa era pós segunda guerra mundial, em plena guerra fria. Nesse contexto, refletiam muito sobre como alcançar uma vida melhor. Questionavam muito os costumes, o decoro e os "bons modos" da geração anterior.
Surge então o Rock'n'Roll, com figuras como Chuck Berry e Elvis Presley, que pregavam, em sua essência, a liberdade, o amor e um mundo melhor. Era um tipo de música que tinha o poder de unir brancos, negros e pessoas de diferentes classes sociais. Em seguida surgiram ícones como os Rolling Stones, os Beatles e Bob Dylan. As letras refletiam sobre guerra, paz, liberdade e censura.

Os movimentos nas décadas de 60 e 70 começaram então a tocar em pontos extremamente sensíveis da sociedade até então: quebraram tabus como homossexualidade, direitos das mulheres, prazer feminino e liberdade de expressão. Temas de extrema importância para a sociedade como um todo.
David Bowie, por exemplo, foi um pioneiro ao abordar com seriedade questões LGBT, quebrando tabus que envolviam as pessoas trans.
Para as gerações mais velhas, isso não passava de rebeldia, e o Rock era visto como algo ultrajante, mas tentador; algo que só poderia ter vindo do diabo.
Em seguida, o movimento começou a propor o uso de substâncias químicas para "expandir o poder da mente" e viver novas experiências psíquicas, fato refletido na música psicodélica dos anos 60. Aí pronto. Era esse o lema: sexo, drogas e rock 'n' roll.

Apesar de inicialmente com boas intenções, o movimento começou a se perder em si mesmo. Muitas pessoas, entre elas vários artistas, morreram na época por overdose e abuso de drogas. Décadas depois, a AIDS surgiu como consequência do sexo não seguro e desenfreado. Diversas vezes, o movimento hippie também não se mostrou tão pacífico quanto ele mesmo se vendia.
Depois veio o Hip Hop, que foi muito bem abordado pelo documentário. Esse movimento propunha, inicialmente, abordar e questionar a realidade. Desde situações corriqueiras da cultura negra americana até questionamentos acerca do racismo, da violência, da polícia, da censura, da imprensa, da mídia e do capitalismo.
Era justamente isso: o hip hop era realista. Os artistas falavam sobre a violência, sobre a objetificação da mulher, entre outros, para simplesmente serem francos sobre a realidade.
Essa era inclusive a proposta do funk brasileiro nos anos 80 e 90: retratar a realidade das favelas.
Mas o funk sofreu do mesmo mal que o hip hop sofreria em seguida: as músicas do gênero americano começaram a ficar cada vez mais iguais, perdendo a originalidade e virando mera ostentação, passando a propor a ganância, a violência e a ideia da mulher como um objeto sexual.
Apesar disso, a verdade é que a música hoje no Brasil, tanto no pop quanto no funk, está questionando mais o papel das mulheres na sociedade. Confrontando o machismo que foi tradição por tantos anos, há muito instituído na sociedade.
Afinal, o público feminino está acordado e questionando. A mulher também tem direito ao prazer, e pode — e deve — ter liberdade para escolher quantos parceiros bem quiser, assim como o homem, sem ser julgada. Elas têm todo o direito de falar abertamente sobre sexo, e de buscar o prazer na relação sexual. E isso incomoda a tradição machista previamente instituída.
Só não podemos transformar esse ideal em uma sociedade que objetifica a mulher, que prega o imoral, a violência e a ostentação.
De fato, vivemos em uma era hedonista e niilista, em que as pessoas buscam a felicidade no prazer imediato, sem pensar no depois. Tudo que importa é o agora, esquecer um mundo (e um Brasil) sem esperança, e focar no prazer da bebida e do sexo.
A música de nossa época irá, inevitavelmente, refletir nossa sociedade. Por isso, acho pouco provável que o documentário do Brasil Paralelo mude as coisas.
A primeira arte
A crítica feita pelo Brasil Paralelo se refere à música que é hoje consumida pelas grandes massas, como é conhecido o mainstream. Nesse cenário em específico, podemos sim reconhecer padrões e constatar que certas tendências não irão durar muito tempo.
"A primeira arte" mostra como a música influenciou a sociedade ao longo da história e como essa arte é também profundamente influenciada pela cultura vigente.
A música, como mostra o documentário, é não só um reflexo da sociedade, mas um fomentador dela.
O documentário demonstra facilmente como a harmonia é capaz de criar um cenário, todo um sentimento específico por trás de uma melodia.
A união de ambas, harmonia e melodia, é capaz de nos induzir às mais diversas formas de emoção, como tristeza, amor, esperança e até mesmo saudade.
O ritmo, por sua vez, é o componente mais básico, mais engajante e instintivo da música. E é, atualmente, o recurso mais usado para engajar o público do mainstream e otimizar as vendas na indústria musical. Uma forma mais fácil de conquistar o ouvinte, porém, de maneira menos profunda.
O documentário faz muito bem ao mostrar como, aos poucos, a indústria fonográfica dominou a música no mundo inteiro — nos dias de hoje, essa indústria manda em praticamente tudo: nos artistas, compositores, cantores e até no próprio ouvinte, ao ditar o que ele irá escutar.
A indústria fonográfica
A consequência da indústria fonográfica é que ela transformou a experiência musical em um produto que não é mais (apenas) música.
Pare para pensar: quando você conhece um artista novo, não está interessado só na música, mas também no seu estilo, na sua atitude, nos clipes, na produção fotográfica, entre outros.
A princípio, isso não é o problema. O problema surge quando o produto oferecido pela indústria fonográfica usa a música como um mero recurso secundário para vender outra coisa adversa.
A consequência é que a música do mainstream hoje está cada vez mais comercial, e isso na maioria das vezes significa: apelativa ao sexo e à violência, generalista, pouco original, menos criativa e mais superficial.
A indústria fonográfica está interessada em lançar cada vez mais hits, sem parar. E para isso, tudo que basta é que as músicas sejam familiares, fáceis de memorizar, repetitivas e dançantes, que os artistas tenham atitude, e que o marketing seja enorme, investindo em imagem, clipes, figurino e shows, mesmo que os artistas não tenham talento musical. Ainda mais com o recurso do autotune, que tornou isso mais possível.
E a música — a música mesmo, raiz — não era assim. A princípio, o ouvinte nem sabia como era a cara do artista. Ouviam a música de seu artista favorito, no máximo, umas cinco vezes na vida.
As pessoas não tinham acesso à música como se tem hoje: o ouvinte não tinha em mãos um aparelho que pode, com um toque, acessar todas as músicas do mundo. Hoje, se você quiser ouvir música, basta acessar o Spotify, YouTube no seu celular e pronto! Já pode ver um show, saber qual como é o artista e como é a sua atitude.
Apesar da indústria fonográfica contribuir para deixar o cenário musical mais democrático hoje, com mais pessoas tendo acesso à música e podendo divulgar sua arte para o mundo, essa indústria também traz um efeito nocivo.
É um mercado que se mantém nos topos, circulando muito, muito dinheiro, e conservando um ciclo sem fim. A indústria fonográfica dita o que as pessoas irão ouvir. A reação das pessoas dita quais músicas a indústria irá lançar.
A reação das pessoas, por sua vez, reflete uma sociedade hedonista, propensa à violência, sedenta pelo luxo, meio perdida e dominada pelo imediatismo das redes sociais.
A soberania da progressão pop
Você conhece a chamada progressão pop? Ou a progressão dos anos 50? Para os já iniciados em teoria musical, elas são bem familiares. Elas têm o seguinte padrão harmônico (não necessariamente nessa ordem):
I - VI - IV - V
Por exemplo, em dó:
Dó - Lá menor - Fá - Sol
Ou
Dó - Sol - Lá menor - Fá
Ou variações dos mesmos acordes. Tudo quanto é hit já usou essas progressões. Vou te dar uma lista bem "curtinha":
Proibida para mim
Será
Someone Like You
Baby
Love Story
I'm Yours
You Belong with me
She Will Be loved
Big Me
Ana Júlia
Stand by me
I Will Always Love You
Welcome to my life
Every Breath You Take
All the small things
Purple Rain
Unchained Melody
Shape of you
Castle on the Hill
Perfect
Photograph
Redemption Song
D'yer Mak'er
Last Kiss
Hallellujah
Umbrella
À sua maneira
Sosseguei
Balada boa
Coração machucado
Ar condicionado n15
Meu abrigo
Como eu quero
Hey Brother
Wake me Up
The Nights
Fico assim sem você
Always remember us this way
Million Reasons
Poker Face
Thinking of You
All too well
Black Space
Amei te ver
E olha que essa é uma lista beeeeem pequena para representar uma quantidade gigantesca de canções famosas que usam essa mesma progressão.
Sem contar com umas outras duas progressões que, em conjunto com essa, praticamente dominam o acervo das músicas pop hoje em dia.
Não é que usar essas progressões seja "proibido" nem plágio. São progressões muito eficazes em muitos casos.
O problema surge quando todas as possibilidades sonoras se restringem a elas. E quando até o arranjo e o ritmo são todos iguais.
Músicos observaram que, nos últimos 20 anos, as músicas no mainstream estão soando cada vez mais iguais. Tudo soa um tanto quanto familiar.
Confira esse vídeo que compara hits mais recentes da música pop e mostra isso acontecendo.
O filme "Yesterday" aborda esse tema, ao questionar se os Beatles teriam lugar no mercado musical para serem criativos como foram, se tivessem surgido nos dias de hoje.
A indústria fonográfica opera, propositalmente, para deixar as músicas mais familiares e facilmente absorvíveis para os ouvintes.
Com isso, as canções no mainstream estão cada vez menos interessantes, menos criativas e menos artísticas. Isso também pode ser percebido nas letras.
Letras pouco relacionáveis
Uma letra boa, poética, costuma ser aquela que expressa uma visão única de mundo, deixando evidente uma personalidade. É aquela com a qual podemos nos relacionar e sentir empatia.
Veja um trecho da letra da canção "Black Or White" de Michael Jackson.
"Proteção para gangues, clubes e nações
Causando tristeza nas relações humanas
É uma guerra por território em uma escala global
Prefiro ouvir os dois lados da história
Veja, não se trata de raças
Apenas lugares, rostos
De onde o seu sangue vem é onde é o seu lugar
(...)
Não vou passar a minha vida sendo apenas uma cor"
Esse é um tipo de canção que mostra estampada a personalidade de Michael Jackson. Uma pessoa relatada por muitos como pacífica e, por vezes, até ingênua. Alguém que viveu uma vida marcada pela indignação com o racismo que sofria.
Veja agora um trecho de "Strawberry Fields Forever" composto por John Lennon:
"Está ficando difícil ser alguém
Mas tudo dará certo
Isso não importa muito para mim
(...)
Estou indo para Strawberry Fields,
Nada é real
E nada para se preocupar
Strawberry Fields para sempre
Eu acho que ninguém está na minha árvore (...)"
Novamente, estampada a vida e a personalidade do artista. A partir dessa música, podemos inferir muito sobre John Lennon. Strawberry Fields era um orfanato, onde Lennon passava horas brincando no jardim quando criança, ao se sentir diferente das demais. Lá ele entrava em um mundo de fantasia. Quando ele diz que "acha que ninguém está na árvore dele", ele se refere a uma "árvore de amigos", uma suposta atividade passada pela professora. Além disso, ele diz não se importar muito em ser alguém na vida. Isso reflete bem uma resposta que ele deu à professora num certo dia, ao ser perguntado sobre o que queria fazer quando crescesse. Na ocasião, ele disse: "eu quero ser feliz".
Agora veja trechos das canções "Balada boa" de Gusttavo Lima e "S&M" de Rihanna.
"Eu já lavei o meu carro, regulei o som (...)
Menina fica à vontade, entre e faça a festa
Me liga mais tarde, vou adorar, vamos nessa(...)
Quero curtir com você na madrugada
Dançar, pular até o Sol raiar (...)
Tchê tchererê tchê tchê x4"
"Na na na, na na vamos lá x4 (...)
O amor é ótimo, o amor é bom
Com criatividade, sem limites
A aflição da sensação me deixa querendo mais (…)
Eu gosto, eu gosto, vamos lá, vamos lá, vamos lá x4 (...)"
Qual a diferença entre essas letras e as primeiras, lá de cima?
A diferença é que essas últimas letras não nos dizem muito sobre o artista. São generalistas, ou seja, poderiam ter vindo de qualquer pessoa. Não conseguiríamos identificar o artista tendo como base apenas a letra.
A consequência é que esse tipo de música não causa muito impacto no ouvinte, pelo menos no longo prazo. São canções que não fazem muita diferença em nossas vidas, e logo são esquecidas. Mas é justamente o tipo de produto que a indústria fonográfica está procurando hoje em dia.
É claro que a música não precisa ser muito pensada nem intelectual para ser boa.
Músicas dançantes e leves também têm o valor musical de trazer alegria e elevar nosso estado de espírito, destacando a emoção no lugar da razão. São músicas que apenas propõem coisas diferentes.
Mas isso não quer dizer que tenhamos que perder toda a personalidade e o feeling por trás. David Bowie demonstra isso perfeitamente em canções como "Let's Dance".
"Vamos dançar
Ponha seus sapatos vermelhos e venha dançar o blues (…)
Vamos mexer
Mexer pela multidão até um espaço vazio (…)
Se você disser corra, eu correrei com você
Se você disser esconda-se, nos esconderemos (…)
Você deveria cair
Em meus braços
E tremer como uma flor".
— "Let's Dance", David Bowie
Música boa hoje: ela existe, sim!
Apesar de tudo que foi falado nesse post, é inegável que existe música boa hoje, e como! Excelentes compositores, cantores, produtores e músicos contribuem para isso. Mesmo no mainstream a música boa aparece.
Posso mencionar alguns artistas como Adele, Muse, Coldplay, Jack Johnson, Melim, Anavitória, Alicia Keys, Lorde, John Mayer, Arctic Monkeys, Beyoncè, Passenger, Jason Mraz, Colbie Caillat, Avicii, Rubel, entre outros. Até mesmo Ed Sheeran, apesar de usar uma fórmula para escrever suas músicas, tem personalidade e possui letras muito bonitas, que resistiram ao tempo, como Thinking Out Loud, Castle on the Hill e Perfect.
"Quando meu cabelo estiver quase desaparecendo e minha memória sumir
E as multidões não lembrarem mais do meu nome
Quando minhas mãos não tocarem as cordas do mesmo jeito
Eu sei que você me amará da mesma forma
Pois, querida, sua alma nunca envelhece, ela é eterna
E, amor, seu sorriso estará sempre em minha mente e memória"
— "Thinking Out Loud", Ed Sheeran
Ainda houve o fenômeno do mainstream da atualidade, que é ela: Billie Eilish. A garota de 19 anos que conquistou a geração millennial.
Mesmo que você não goste do estilo, é inegável o talento artístico da cantora, que é um verdadeiro prodígio vocal. Ela une o seu talento com o do irmão para escrever novas músicas, com incrível personalidade, e interpretá-las de uma forma única, nunca antes vista. Confira a música "My Future" e veja a performance ao vivo da cantora:
"Eu sou apenas um espelho
Você olha a sua aparência
E vê que seu reflexo está completamente sozinho (…)
Porque eu, eu estou apaixonada
Pelo meu futuro (…)
E eu, eu estou apaixonada
Mas não por outra pessoa
Só quero me conhecer"
— "my future", Billie Eilish
Sem contar com a galera que está fora do mainstream, como Tim Bernardes, no Brasil, e Sleeping At Last, nos EUA, com belíssimas músicas — que, apesar de não serem famosas e não estarem na boca do povo, são candidatas fortes para resistir ao teste do tempo.
"Ainda assim, eu verifico meus sinais vitais
Engasgado, percebo
Eu tenho sido menos da metade de mim mesmo
Por mais da metade da minha vida (…)
Acorde
Apaixone-se outra vez (...)
Há tantas coisas pelas quais vale a pena lutar, você verá (…)
Conhecer e amar a nós mesmos e aos outros
É o trabalho mais difícil e significativo
A se fazer"
— "Nine", Sleeping At Last
"O que começa terá seu final
E isso é normal
Isso é normal
A dor do fim vem pra purificar
Recomeçar, recomeçar"
— "Recomeçar", Tim Bernardes
A música instrumental também continua por aí, mas longe dos holofotes. Ela se destaca principalmente nas trilhas sonoras de filmes, com belíssimas obras de compositores como John Williams, Hildur Gudnadottir, Hans Zimmer e Justin Hurwitz.
Cabe a você escolher o que vai ouvir.
Onde a música vai dar? Só o tempo irá dizer. Mas isso é certo: o que vai ficar é a música boa. A música que transcende o tempo; não necessariamente a música que move multidões, mas aquela que toca, verdadeiramente, o coração de quem a ouve.
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